O termo técnico médico que devemos utilizar aqui é trombocitose
ou trombocitemia, palavras de origem grega que significam “muitas
plaquetas no sangue”. Classicamente se define trombocitose quando a contagem de
plaquetas ultrapassa 450mil num exame de sangue. Há 2 tipos de plaquetose: as trombocitemias secundárias e a
trombocitemia essencial.

Figura: A: plaquetas ao microscópio óptico / B: plaqueta ao microscópio eletrônico. Crédito: Rodak, 2017
Trombocitemia secundária
As trombocitemias secundárias não são propriamente uma
doença. Nestes casos, a elevação das plaquetas se dá como
resposta do organismo a outras condições. As mais comuns são
deficiência de ferro e os processos inflamatórios e/ou infecciosos.
Assim, não há necessidade de tratar as plaquetas, mas sim corrigir
o problema que está por trás causando essa consequência. Estes são
os casos mais frequentes.
Trombocitemia essencial
Já a trombocitemia essencial é uma doença da célula tronco
hematopoietica (saiba mais), adquirida durante a vida por uma
alteração na função de algum gene que regula a produção das
células sanguíneas. Neste caso, a medula óssea perde o controle e passa a produzir plaquetas excessivamente,
produzindo um trombocitose que é persistente, muitas vezes
progressiva e com diversos riscos à vida, especialmente os eventos
tromboembólicos – Acidente Vascular Cerebral (pop. “derrame”),
Infarto Agudo do Miocárdio (pop. “infarto do coração”),
Tromboses Venosas Profundas (trombose das pernas ou braços, da
cabeça ou dos intestinos) e Embolia Pulmonar.
Paradoxalmente, além dos riscos tromboembólicos, a trombocitemia
essencial também causa risco de sangramentos, pois essas plaquetas
excessivas e doentes consomem outros fatores da coagulação que
seriam essenciais para o bom funcionamento do sistema.
Há ainda um risco inerente de que novas mutações sejam
adquiridas por estas células tronco doentes, e uma vez que elas
originam todas as outras células do sangue, novas mutações podem
significar novas doenças, neste caso especialmente estamos falando
da Leucemia Mieloide Aguda, que deve ser tema de algum artigo futuro
neste blog.
De outra forma, esta doença tende a evoluir com o passar de
muitos anos para uma forma de Mielofibrose, condição na qual o
tecido medular é progressivamente substituído por um tecido
fibroso, uma “cicatriz” que impede a boa produção do sangue.
Para o diagnóstico da trombocitemia essencial o hematologista
poderá observar toda a série de hemogramas já realizados, buscando
verificar se há algum padrão com o passar do tempo. Além disso
deve-se pesquisar pelas mutações causadoras através de exames de
sangue específicos, e eventualmente se fará necessário realizar
exames medulares, como o mielograma e a biópsia de medula óssea.
A doença é tratada com medicações, usualmente comprimidos
facilmente encontrados nas farmácias, e na maioria dos casos a
resposta é favorável e expectativa de vida muito boa.
E aí? Suas plaquetas estão altas? Procure seu hematologista! Ele
é o médico mais indicado para fazer sua investigação e
tratamento.
Este artigo tem cunho didático e é
dirigido a pessoas leigas. Sua leitura não substitui a avaliação
de um bom médico.