Dr. Tiago de Sá Werneck

Plaquetas baixas – o que fazer??

22 setembro, 2022

Plaquetopenia, trombocitopenia ou simplesmente plaquetas baixas é uma alteração hematológica que ocorre quando o número de plaquetas é menor que 150.000/mm³ no hemograma. A principal função das plaquetas é iniciar a formação do coágulo. Logo, com plaquetas baixas pode haver maior risco de sangramento.


Mas calma! Não se desespere. Em geral esse risco só ocorre quando o número de plaquetas cai abaixo de 50 mil, mais usualmente abaixo de 10 ou 20 mil.


De toda forma, é imprescindível realizar a investigação da causa, que podem ser inúmeras para um paciente apresentar plaquetas baixas. Pode ser um problema relacionado ao fígado ou baço, doenças imunológicas diversas, ou mesmo a doenças próprias do sangue e da medula óssea, como linfomas e leucemias, aplasia medular ou mielodisplasia, entre variadas outras causas possíveis.


Com o diagnóstico correto, pode-se propor um tratamento mais adequado a cada caso, e o hematologista é o profissional mais indicado para realizar esse procedimento.


Plaquetas: um dos principais elementos do coágulo de sangue.
* credito: Brgfx - Freepik.com


Este artigo tem cunho didático e é dirigido a pessoas leigas. Sua leitura não substitui a avaliação de um bom médico.


 

O que significa a Microcitose?

21 junho, 2022

Quando realizamos um hemograma, que é o exame onde se analisa as células contidas no sangue, nós podemos obter uma enorme variedade de informações. Uma delas é sobre o tamanho das hemácias. As hemácias são responsáveis por transportar o oxigênio dos pulmões aos outros órgãos.

Elas possuem um tamanho normal, que varia de 80 a 100 fL (fentolitros - unidade de medida de volume igual a 10-15 litro, ou 1 trilhonésimo de 1mL).


Quando as hemácias estão pequenas, menores que 80fL, se diz que são microcíticas.


Se um paciente possui hemácias microcíticas, é necessário investigar a causa – mais comumente a deficiência do ferro e as talassemias.


Com o diagnóstico correto, pode-se propor um tratamento mais adequado a cada caso, e o hematologista é o profissional mais indicado para realizar esse procedimento.


Figura: Hemácias pequenas (células em rosa claro). Elas deveriam ter quase o tamanho do linfócito (célula com núcleo roxo no centro).

Crédito: Rodak, 2017




Este artigo tem cunho didático e é dirigido a pessoas leigas. Sua leitura não substitui a avaliação de um bom médico.


 

Você conhece a Mielodisplasia? (Síndrome Mielodisplásica)

18 maio, 2022


Figura: 'Autorretrato', Pablo Picasso. Cores e formas alteradas.




A mielodisplasia, ou displasia da medula óssea é o nome que se dá a alterações onde as células que originam o sangue estão defeituosas – elas ficam com cores e formas alteradas – o que se observa por alterações típicas no microscópio .


Quando estas alterações são originadas pela própria medula óssea – ou seja, não sendo causadas por outras doenças de outros órgãos – temos uma doença chamada Síndrome Mielodisplásica, ou SMD, que necessita acompanhamento e tratamento específicos com o hematologista.


Os achados clássicos são as alterações do hemograma que pioram com o passar do tempo:

  • Anemia
  • Queda das células de defesa ou queda da imunidade (leucopenia e neutropenia)
  • Queda das plaquetas (plaquetopenia)

Essas alterações vão causar no organismo: palidez, cansaço, fraqueza e sonolência excessiva, infecções recorrentes, às vezes graves, petéquias e outros sangramentos, além de perda do apetite e emagrecimento.


Se você tem estes sintomas ou estas alterações do hemograma, procure seu hematologista. A doença possui tratamento para todos os casos e até mesmo possibilidade de cura completa em casos específicos.




Figura: Exemplos de displasias em neutrófilos (células de defesa): A - Ausência sem grânulos; B - Núcleo em anel; C - Núcleo deformado e poucos grânulos; D - Neutrófilo normal para comparação. Crédito: Rodak, 2017





Este artigo tem cunho didático e é dirigido a pessoas leigas. Sua leitura não substitui a avaliação de um bom médico.


 

Anemia – o que o paciente precisa saber?

21 dezembro, 2021

Anemia para os médicos significa que há um baixo teor de hemoglobina no sangue. A hemoglobina é uma molécula que está contida nas hemácias (também chamadas eritrócitos), cuja função é fazer a ligação com o Oxigênio e permitir seu transporte pelo sangue. A hemoglobina é que deixa o sangue vermelho, e por isso a pessoa anêmica fica pálida, pois essa substância que traz vivacidade a nossas faces está escassa.


A pessoa com anemia pode ter sintomas mais ou menos intensos, dependendo do grau de hemoglobina e da velocidade em que houve a queda – isso porque se a queda é lenta, o organismo tem tempo para se adaptar ao sangue que ficou pobre. Os sintomas típicos são: fadiga, sonolência excessiva, palidez da pele e mucosas, coração e respiração acelerados desproporcionalmente ao exercício realizado. Também pode haver tontura, sensação de desmaio e alterações do apetite.


A anemia em última análise é sempre um sintoma, e não uma doença. Isso porque há várias doenças que podem causar anemia como consequência, algumas delas são hereditárias, outras são deficiências de nutrientes, em outras pode ocorrer a destruição do sangue. Em todas elas há um fato em comum: a produção de hemácias não supre a demanda do organismo, seja pela baixa produção ou pela alta demanda.


Causas de anemias por deficiências nutricionais:

  • Deficiência de ferro
  • Deficiência de vitamina B12
  • Deficiência de ácido fólico
  • Desnutrição
  • Deficiência de micronutrientes

Causas de anemia por problemas celulares hereditários:

  • Anemia falciforme
  • Talassemia
  • Outros defeitos da hemoglobina
  • Estomatocitose e eliptocitose
  • Deficiência de G6PD ou de outras enzimas intracelulares

Causas de anemia por problemas celulares adquiridos durante a vida:

  • Aplasia medular
  • Síndromes mielodisplásicas
  • HPN - Hemoglobinúria paroxística noturna
  • Mielofibrose

Causas de anemia por infiltração da medula óssea por tumores:

  • Mieloftise
  • Leucemias Agudas
  • Leucemias Cronicas
  • Linfomas
  • Mieloma Múltiplo

Causas de anemia secundária a outras doenças:

  • Anemia de doença crônica
  • Doença renal crônica
  • Infecções

Causas imunológicas de anemia:

  • Anemia hemolítica autoimune
  • Lúpus Eritematoso sistêmico

É verdade que a deficiência de ferro representa a grande maioria dos casos de anemia, mas as outras doenças não devem ser ignoradas sem uma investigação adequada. Além disso, na anemia por deficiência de ferro é imprescindível a identificação da causa para os baixos níveis de ferro. Somente assim pode-se realizar um tratamento direcionado, de forma que não ocorra piora ou recorrência dos sintomas.


Figura: 'The Anemic Lady', Samuel van Hoogstraten



Este artigo tem cunho didático e é dirigido a pessoas leigas. Sua leitura não substitui a avaliação de um bom médico.

 

Minhas plaquetas estão altas! E Agora?

25 novembro, 2021

O termo técnico médico que devemos utilizar aqui é trombocitose ou trombocitemia, palavras de origem grega que significam “muitas plaquetas no sangue”. Classicamente se define trombocitose quando a contagem de plaquetas ultrapassa 450mil num exame de sangue. Há 2 tipos de plaquetose: as trombocitemias secundárias e a trombocitemia essencial.

Figura: A: plaquetas ao microscópio óptico / B: plaqueta ao microscópio eletrônico. Crédito: Rodak, 2017


Trombocitemia secundária

As trombocitemias secundárias não são propriamente uma doença. Nestes casos, a elevação das plaquetas se dá como resposta do organismo a outras condições. As mais comuns são deficiência de ferro e os processos inflamatórios e/ou infecciosos. Assim, não há necessidade de tratar as plaquetas, mas sim corrigir o problema que está por trás causando essa consequência. Estes são os casos mais frequentes.

Trombocitemia essencial

Já a trombocitemia essencial é uma doença da célula tronco hematopoietica (saiba mais), adquirida durante a vida por uma alteração na função de algum gene que regula a produção das células sanguíneas. Neste caso, a medula óssea perde o controle e passa a produzir plaquetas excessivamente, produzindo um trombocitose que é persistente, muitas vezes progressiva e com diversos riscos à vida, especialmente os eventos tromboembólicos – Acidente Vascular Cerebral (pop. “derrame”), Infarto Agudo do Miocárdio (pop. “infarto do coração”), Tromboses Venosas Profundas (trombose das pernas ou braços, da cabeça ou dos intestinos) e Embolia Pulmonar.

Paradoxalmente, além dos riscos tromboembólicos, a trombocitemia essencial também causa risco de sangramentos, pois essas plaquetas excessivas e doentes consomem outros fatores da coagulação que seriam essenciais para o bom funcionamento do sistema.

Há ainda um risco inerente de que novas mutações sejam adquiridas por estas células tronco doentes, e uma vez que elas originam todas as outras células do sangue, novas mutações podem significar novas doenças, neste caso especialmente estamos falando da Leucemia Mieloide Aguda, que deve ser tema de algum artigo futuro neste blog.

De outra forma, esta doença tende a evoluir com o passar de muitos anos para uma forma de Mielofibrose, condição na qual o tecido medular é progressivamente substituído por um tecido fibroso, uma “cicatriz” que impede a boa produção do sangue.

Para o diagnóstico da trombocitemia essencial o hematologista poderá observar toda a série de hemogramas já realizados, buscando verificar se há algum padrão com o passar do tempo. Além disso deve-se pesquisar pelas mutações causadoras através de exames de sangue específicos, e eventualmente se fará necessário realizar exames medulares, como o mielograma e a biópsia de medula óssea.

A doença é tratada com medicações, usualmente comprimidos facilmente encontrados nas farmácias, e na maioria dos casos a resposta é favorável e expectativa de vida muito boa.

E aí? Suas plaquetas estão altas? Procure seu hematologista! Ele é o médico mais indicado para fazer sua investigação e tratamento.


Este artigo tem cunho didático e é dirigido a pessoas leigas. Sua leitura não substitui a avaliação de um bom médico.





 

A medula óssea e a formação do sangue

25 novembro, 2021

A produção do sangue, tecnicamente chamada de hematopoiese, se dá, na pessoa adulta, num órgão pouco conhecido: a medula óssea vermelha – não confundir com a medula espinhal, que é outro órgão e não tem nada com nossa história.

A medula óssea é o que popularmente se chama “tutano do osso”. Ela está presente na parte mais central de diversos ossos, mas especialmente no esterno, bacia, vértebras, costelas e crânio. É um órgão líquido, sem uma forma definida.

Nele existe uma célula especial, chamada célula tronco hematopoiética (stem cell, em inglês). Esta célula é capaz de dar origem a todas as células do sangue e por isso são denominadas multipotenciais – diferente das células tronco embrionárias, que são totipotenciais, ou seja, podem formar qualquer célula do corpo.

A partir da célula tronco hematopoiética são formados:

  • os eritrócitos (ou hemácias), que são responsáveis pelo transporte de oxigênio.

  • as plaquetas, que atuam na formação do coágulo.

  • os leucócitos (neutrófilos, eosinófilos, basófilos, linfócitos, monócitos, etc), importantes na defesa do organismo.

Estão são as células que serão vistas no sangue. Em muitas doenças uma alteração no sangue pode ter originam nas suas células precursoras, e por isso pode ser importante que se examine a medula óssea.

Na figura podemos observar o complexo caminho desde a célula tronco até as células maduras que se encontram no sangue e tecidos. Assim é formado esse órgão incrível e cheio de funções que é o sangue!

Figura: Hematopoiese. Crédito: Rodak, 2017


Este artigo tem cunho didático e é dirigido a pessoas leigas. Sua leitura não substitui a avaliação de um bom médico.